Maraktu

Durante mais ou menos uma hora, todos ficaram conversando enquanto comiam. John finalmente pôde matar sua fome — o que levou um bom tempo — e o resto ficou olhando, embasbacado, o quanto o Roedor comia.

O Sol estava para se pôr quando ouviu-se um uivo convocando todos os Garou do caern para uma assembléia. Aleck guiou o grupo todo para o coração do caern, que era em uma caverna onde havia água e uma enorme emanação da Wyld. Lá, os quatro viram um homem com características indígenas e um lobo de pelagem avermelhada sentados, parecendo esperar. Havia também um homem com roupas humanas comuns, que Falcão reconheceu como Bewolf, seu mentor.

— Sejam bem vindos, crianças — cumprimentou o indígena. — Sou Terras do Norte, e estes são, respectivamente, Equilíbrio das Estações e Bewolf. Vejo que a Seita Olhos do Inverno respondeu nosso chamado, e enviou-nos a ajuda. Aos visitantes, gostaria que se apresentassem.

May, John e Jhonny se apresentaram, e logo que terminaram, Terras do Norte retomou a palavra.

— Não vim trazer boas noticias. Este caern a muitas estações atrás, quando estas terras eram do irmão mais novo apenas, foi aprisionado aqui Maraktu, um dos grandes malditos. O irmão mais velho foi quem aprisionou e desde então a prisão foi guardada pelos dois irmãos. E com isso, um caern foi criado com o objetivo de enfraquecê-lo e garantir que nenhum garou desta terra fossem pego.

“Mas o mundo mudou com a chegada das outras tribos... e vários caern caíram, vários registros se perderam e minha tribo perdeu o local da prisão de Maraktu. Seu vigia pereceu com o tempo. A algumas luas atrás, finalmente encontramos o registro que ele esta preso aqui e vim confirmar se a prisão dele esta forte o suficiente, mas com esta noticia, temos mais um problema se as energias de morte e corrupção atingirem sua prisão. Esta é a mensagem que vim trazer. Aqui, neste caern, há um maldito extremamente poderoso que deve continuar preso.”

— Outro ponto a ressaltar é que, além de tudo isso, temos um grupo de Espirais Negras se aproximando. — disse Equilíbrio das Estações — Eles entraram em confronto com alguns Garou da seita Olhos do Inverno, que infelizmente não conseguiu conter a todos. Neste exato momento, segundo as informações de Garra Celeste, líder da nossa seita aliada, um novo grupo está tentando conseguir informações sobre seus planos, a fim de atrasá-los um pouco. No entanto, sabemos que uma batalha será quase que inevitável.

“A missão de vocês quatro será ir até a prisão umbral do maldito e garantir que ela não seja atacada e caso for, que ela não seja violada. Alguma dúvida?”

Terras do Norte olhou para a Fianna e respondeu sem pensar:

— Criança, se a prisão de um maldito extremamente poderoso pudesse ser encontrada por um simples Ritual que é a Pedra Caçadora, não seria uma prisão.

Diante da resposta, May decidiu ficar quieta, olhando para a pequena garrafinha. De fato, devia parar de beber.

— Quanto a você, Rato de Escritório, é comum filhotes não saberem muito da Umbra. Como Lua Nova, você terá a oportunidade de fazer a parte que lhe cabe. Aleck, quero que você e Falcão estejam atentos, já que ambos possuem um grande conhecimento da Umbra.

Nesse momento, apareceu um índigena mais novo que o ancião, e se aproximou de todos.

— Sou Terra Funda, Philodox Adren dos Uktena, e servirei de guia nesta missão. Existe uma trilha na Umbra que irá nos levar até onde a prisão se localiza, e então realizarei o ritual que reforçará as barreiras que mantêm Maraktu preso. Quero aconselhá-los a não se preocupar com as batalhas, porque toda a seita está se mobilizando para dar-nos tempo de agir. Não desperdicemos o esforço que todos estão fazendo.

Ele olhou para cada um dos filhotes e respirou fundo.

— Se não tiverem nenhuma dúvida, quero que todos acessem a Umbra. Começaremos a missão agora.

Uma missão extremamente perigosa estava começando. Aleck não se sentia confortável tendo de realizá-la com um Jhonny, que por sua vez começava a sentir-se deslocado no meio daqueles Garou estranhos. Apenas Rato de Escritório não estava tão acanhado, já que não era do tipo que se importava com o que Presas de Prata poderiam pensar, e vergonha era uma coisa que May nunca tivera na vida mesmo, por que teria agora? Mesmo com seu celular tocando no meio da missão, despertando a atenção de todos, inclusive de Terra Funda.

Quando desligou, a Fianna percebeu alguns lupinos de pelagem vermelha — inclusive Equilíbrio das Estações — olhá-la com um rancor descarado. Ela engoliu em seco, tentou fazer um insentivo, mas não colou. May começava a perceber que talvez estivesse abusando demais da sorte trazendo um objeto tão Weaver para um lugar lotado de Garras Vermelhas.

Jhonny e Aleck atravessaram a Umbra sem nenhum problema. John foi logo atrás dele, demorando alguns segundos a mais. Apenas May parecia não conseguiu concentrar-se o suficiente para atravessar a Película. O álcool estava começando a fazer efeitos demais sobre ela, e aquele bando de Garras Vermelhas encarando-a num misto de escárnio e repulsa também não era a melhor coisa do mundo, se formos considerar o meio em que a Fianna foi criada.

— Vejam só, irmãos — refletiu Equilíbrio das Estações — Isso é o que a Weaver faz com aqueles que se entregam demais a ela.

As risadas apenas aumentaram. May sentiu a raiva crescendo dentro de si. Era uma Galliard, e tinha quase tanta Fúria quanto um Ahroun. Respirou fundo, tentando ignorar a zombaria e se concentrou outra vez, dessa vez partindo para a Umbra depois de alguns segundos.

O grupo já estava reunido quando a Galliard adentrou o mundo espiritual. Ela se sentia cansada devido ao esforço, e olhando para a garrafa, decidiu guardá-la por algum tempo. Terra Funda arqueou a sobrancelha e se virou.

— Prepararei agora um encanto para abrir o caminho. Os Malditos e alguns Bastardos estão na fronteira do caern, vocês se encarregarão de manter aqueles que se aproximarem bem longe. Dez minutos é tudo que preciso para realizar o encanto.

O Uktena começou a quebrar alguns galhos e entoar um cântico. Como estavam na Umbra, era possível ver uma fumaça multi-colorida emanar dos igredientes que ele misturava para abrir a passagem. Naquele momento, os cinco sentiam uma estranha sensação de estarem sendo observados. Os pêlos na nuca de Aleck começaram a se eriçar, e um rosnar baixo escapou de sua garganta. Ao longe, os Garou ouviram um
estrondo. Ao longe, um enorme maldito se materializou.